8 Hábitos
que você deve
abandonar
para ser uma mochileira

Já viajei um bocado. Já tive um estilo mais perrenguera. Agora a vibe já é um pouco diferente. Tropecei muito. Me coloquei em muito perigo, mas já me diverti bastante também. Já conheci vários tipos de mochileiros, já fui vários tipos eu mesma. E com a bagagem acumulada de 40 países, 6 continentes e muita coisa vivida, eu trouxe esses 8 hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira solo também. 

06 Fev

 

Já conheci pessoas que não gostam de chocolate. Algumas que não gostam de pizza, mas de viajar, ainda não conheci nenhuma. Existe algo nobre em conhecer outro lugar- aquela ideia romântica de ter contato com o diferente para ter melhor noção de si. E é verdade! Nos conhecemos melhor a partir da comparação com o outro. Agregamos à nossa vida cotidiana com tudo que aprendemos viajando pelo mundo, mesmo depois de voltar pra casa. Quer coisa mais bonita do que isso?

Mas o que mais diferencia uma viajante amadora pra uma mochileira preparada? Quanta margem existe nesse estilo de vida que é almejado por tantos? Ao mesmo tempo que viajar é um gosto universal, não é necessariamente algo fácil de se fazer. E por mais que eu procure incentivar a mulherada a pegar a mochila e começar a viajar, ainda estamos sucetíveis a muita coisa- não sempre perigos, mas stress por exemplo.

 Mochilar envolve jogo de cintura, esforço de comunicação, gerenciamento de expectativa, disciplina, economia de grana, para citar apenas algumas características. Por isso, eu trago aqui algumas lições que aprendi que não tem nada a ver com a vida cosmopolita, viajante e sensata que eu escolhi ter para mim. Os hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira.

8 hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira

1. Ser suscetível

 Perdoe o estrangeirismo. A palavra “apologetic” foi algo que quando conheci, adotei no vocabulário e tirei do comportamento.

Apologética é pedir desculpas quando não há necessidade. É se desculpar antes de pedir um favor. É sentir culpa ao falar como se sente. Seja pra um estranho ou para um conhecido de longa data. 

Na prática, é deixar alguém furar a fila e se sentir intimidada na hora de contestar. Ou então culpada caso conteste, sendo quando de errado você não fez nada. Viajando sozinha, eu já me deparei com pessoas querendo tirar vantagem de várias formas. Você precisa constantemente se impor e estar ciente do que te acontece. Isso inclui levantar a voz quando for preciso.

Alguns exemplos:

Pessoas vão querer conversar com você mesmo quando você não tiver afim, e TUDO BEM não estar afim. Vai embora, diz “não tenho interesse”. Não se desculpe, você não deve nada a ninguém.

 Outros vão achar que você está insinuando algo se sentar perto deles numa mesa compartilhada (onde tem tomada e wifi por exemplo).

 Em alguns casos, vai ter gente que vai querer tirar foto contigo, encostar em você, tirar foto sua sem pedir, ou sem você nem perceber. Essa dispensa comentários né.

Vai ter gente que vai abrir as pernas sentado na mesma fileira do avião que você, ocupando seu espaço e te incentivando a cruzar as suas pernas. Não cruza não, aquele é o seu espaço. 

Alguns comércios vão querer cobrar mais, dar troco a menos, dar troco em outra moeda… confere, pergunta, confirma….

Resumindo: 

O primeiro e mais importante dos hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira é que em alguns momentos,  você vai ter de confiar em si mesma. Confie que você é a melhor pessoa para te defender e pra tomar conta de si mesma. Isso é uma bela lição de autoconhecimento bem importante nas viagens.

8 hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira
Cingapura está no topo da lista dos países mais seguros do mundo.
8 hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira
Fronteira ao Mar Vermelho entre Israel, Egito, Jordânia e Arábia Saudita

2. Ter aversão á riscos

“Nossa como você é corajosa” , “Queria viajar assim também, mas tenho medo”. São constantes conversas que eu tenho com quem procura se inspirar aqui no Shetrips. E é uma conversa difícil por que ao mesmo tempo que eu já tenha feito tantas viagens por conta própria e ter me saído tão bem, como eu poderia garantir que nada jamais acontecerá com outra pessoa?
 
A melhor conclusão que eu pude chegar é que não tem como estar 100% segura. Nem no dia a dia, nem nas viagens. E o importante é que você esteja ciente de quais riscos você pode correr para OU se blindar OU assumi-los.  
 
 

Se você seguir a primeira dica, uma parcela dos riscos já serão mitigados, pois você não será mais vista como uma pessoa de todo indefesa.

Quando eu comecei a viajar sozinha, aos 18, eu não conhecia todos os riscos que eu corria, e felizmente nada de grave aconteceu comigo. Hoje, com mais informação e mais consciência eu decidi não dar tanta sorte pro azar e as decisões que eu tomo estão nos limites do risco que eu estou disposta a assumir. 
 

Algumas dicas práticas pra quem optar por se arriscar:

 

1. Contatos

Na hora de se preparar pra uma viagem internacional, tenha sempre acessível o contato da embaixada(ou consulado) do Brasil no seu país de destino. O mesmo vale pro número de emergência, o equivalente ao 190 que muda de país a país. 

 2. Mais contatos

 Se você conhecer alguém no destino, melhor ainda. Carregue um papel com o contato caso o celular fique sem bateria ou aconteça algo com ele.

 3. Bateria

 Vale a pena investir em um carregador portátil de celular, ele já me salvou em algumas ocasiões. 

 4. Seguro

Não menos importante, não deixe de contratar um seguro viagem. Já precisei acionar e não fiquei na mão.  

Fora isso, tente não entrar no pensamento contraproducente de que tudo é perigo. Confie mais em si mesma. Tem muita oportunidade por aí que nos privamos de conhecer sem nem dar o benefício da dúvida. E quando chegamos no destino e está tudo bem, toda a preocupação é substituída pela gratidão. É uma das sensações mais recompensadoras que podemos trazer a nós mesmas. 
 

Agora seguimos com os próximos hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira

 
Você não está pronta para viajar o mundo
Cairo 2018
Belém, Palestina 2018
Belém, Palestina 2018

 3.Não reconhecer o valor do Brasil

 

Por que será que a gente acostumou tanto com a ideia que tudo é melhor lá fora? Uma estrada bem pavimentada entre Miami e Orlando não deveria ser o maior contraste do que é bom no mundo afora com o que falta no Brasil. 

E nem vou entrar no mérito mais profundo da discussão, vamos ao que já é unânime: temos um país riquíssimo em recursos naturais, diversidade, talento, culinária, empreendedorismo, produção de arte, e claro: enorme potencial turístico!  

Comparando com outros exemplos:

Morando no ano passado entre o Uruguay e Portugal, pude perceber como o Brasil exporta o conteúdo que produz. Desde poesia, literatura, música até o trabalho de influenciadores. Chega a ser estranho como eles conhecem tanto de nós e nós tão pouco sobre eles. Muito do que criamos é referência!

A Diversidade é nosso maior recurso

Temos 6 biomas dentro do nosso território! Infinitas praias, pra tomar sol ou sair surfando. Até semi desertos, o cerrado que se assemelha à savana africana. Gente, temos numa mesma região neve e florestas tropicais! 

Viajando por países menores, vemos o tanto que os destinos conseguem extrair de potencial turístico com uma fração da diversidade que temos. É trabalho nosso abrir os olhos e valorizar o que temos dentro de casa. Somos porta voz do Brasil quando viajamos. Todos os exemplos que eu citei da diversidade brasileira, por sinal são da natureza. Isso abre portas para o ecoturismo que garante vistas as excepcionais que ja temos num ritmo desacelerado e justo com o passo da natureza de absorver nossa presença.

Apesar de todos os empecilhos de um desenvolvimento igualitário, como brasileiros, mandamos excepcionalmente bem dadas as condições que temos. Seria contraditório não reconhecer o valor que temos enquanto nos acostumamos em consumir experiências de outros lugares.

Se você ainda não reconhece o valor do Brasil, esse é um dos hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira.

 

8hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira

O Jalapão, no Tocantins foi uma aula no tema diversidade do Brasil. Meio nordeste, meio Centro do Brasil. Parte quilombola, parte nativa. Tons de Savana, tons tropicais. 

4. Ser Bairrista

 

O item anterior diz que não combina com uma mochileira a síndrome de cachorrinho abandonado do brasileiro. Essa frase é tão verdade quanto o contrário dela. Saindo do conforto da sua casa, você vai se deparar com pessoas que tem hábitos diferentes. E não é por fazer algo de outra maneira esteja errado. 

Tem culturas nas quais é costume comer arroz e carne no café da manhã, outras que nem carne consomem. Vestimenta, casamento, instituições familiares, comportamento… Seria muito soberbo da nossa parte achar que estamos fazendo tudo da maneira certa e os outros, por puro exotismo fariam diferente né?!

Pois bem, que o mundo é diferente, todo mundo já sabe. O próximo passo pra se graduar em mochilão sensato é verdadeiramente enxergar aquilo como verdade para alguém, e não figurino de um grande choque de culturas. Só assim, comecei a desapegar de construções antigas e que nem me pertenciam, mas eram quase inerentes- e assim consegui estabelecer o  diálogo. Mesmo frente às diferenças, já encontrei tanta sinergia nesse mundo.  Ser bairrista é um dos piores hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira.

Um exemplo:

Em Dheisheh, campo de refugiados na Palestina, me aproximei da minha anfitriã falando sobre maquiagem. Enquanto desenhava um olho de gatinho em mim, ela me contou que estava começando a fazer auto-escola para ganhar um pouco mais de independência. Parece uma conversa que poderia acontecer em qualquer apartamento na região central de Curitiba, não? Naquele momento percebi que nem somos tão diferentes assim. Temos muito em comum por mais que as situações externas sejam totalmente diferentes.

8 hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira

Em Jerusalém é comum encontrar turistas do mundo inteiro dividindo o mesmo espaço que fiéis cristãos, judeus ortodoxos e muçulmanos.

5. Intolerância 

Apesar de não ser bem um hábito e parecer óbvio demais para aparecer nesta lista, os preconceitos e aversões merecem de um lugar nesse artigo. Isso por que a intolerância pode vir em diferentes camadas, sendo algumas não tão explícitas, mas que mesmo assim podem minar seu espírito viajante.

Desde meus 14, 15 anos, me declarei amante do universo, sentia que meu propósito ia além de uma vida no escritório e achava duro demais ter de eleger apenas um lugar como lar, pois me sentia uma verdadeira cidadã do mundo. Mal sabia eu, que além da Europa, América do Norte e Oceania, havia uma outra infinidade no mundo que eu não fazia questão de considerar. 

Eu não amava o mundo, eu amava o glamour, o desenvolvimento. Eu não amava nem 15% do mundo. Se o mundo fosse uma pizza, eu amaria pouco mais que 1 das suas 8 fatias. E para a minha surpresa, mesmo conhecendo pessoas mais viajadas que eu, mais velhas, mais tudo… isso não que dizer que elas tenham tanto apetite por essa pizza.

 

 Amar o mundo é uma grande responsabilidade, implica em aceitar as coisas pelo que são na sua integridade. O mundo é essa enorme colcha de retalhos, e as interações entre diferentes culturas são muito mais complexas do que uma simples troca turística. É um pedido difícil o de amar um mundo que carrega despotimos, as guerras, xenofobia e vários outros ”ismos” que estamos acostumadas em ouvir. Por isso, o meio caminho é conhecer, escutar, entender e mediar. Estudar Relações Internacionais foi minha porta de entrada para a tolerância. Viajar consciente foi a segunda entrada. 

Mas Marina, o que isso tudo tem a ver com as férias que eu pretendo tirar no fim do ano?

Enquanto planeja sua viagem, procure entender como é composta a sociedade daquele local. O que mais te cativa naquele destino? Qual sua história? Há migrantes? Refugiados? Qual a distância entre estes e o restante da sociedade? Que outras camadas talvez você deixaria de considerá-los pela origem diferente? 

Viajar é se dispor a ampliar a própria visão, e no desconhecido temos a chance de por isso em prática, seletivamente dar voz a outros protagonistas que talvez estejam calados numa sociedade.

É claro que ainda é possível viajar muito sem se fazer essas perguntas, mas você corre o risco de ser uma viajante rasa, sem cortar a superfície das coisas. Para mim, esse é um dos mais complexos hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira.

 

6. Não se  importar com o meio ambiente

Dos 40 países que eu conheço, unanimemente, as melhores vistas que tive foram proporcionadas pela natureza. Existem patrimônios naturais que estão sendo perdidos, em parte pela ação humana. É o caso da grande cratera azul de uma das ilhas de Malta, que simplesmente despencou do dia pra noite. 

Como viajantes, temos de entender que estamos ali em um destino por um curto período de tempo, e por mais que logo em seguida já vamos embora, precisamos preservar o lugar para quem vem depois e principalmente pra quem fica ali. Seria contraditório dizer que amamos viajar e demonstrar pouco interesse em cuidar. Diminuir o impacto da nossa visita é imprescindível se você quiser continuar conhecendo lugares naturalmente incríveis. 


Aqui vão algumas formas que você pode reduzir o seu impacto:

 1. Transporte 

Prefira meios de transporte que emitem menos gases nocivos. Em trechos curtos e acessíveis, tem como usar trens aos ônibus e ônibus aos aviões, por exemplo. Já é um começo.

Fervedouro Jalapão

Fervedouro no Jalapão

 2. Adeus plástico

Dê adeus aos produtos de único uso. Nessa nova década não tem mais espaço pra nada descartável. Há tanta opção pra evitar um único uso de canudo, copos, garrafa cotonete, absorventes… Inclusive, a maioria desses itens que podemos reutilizar acabam sendo mais convenientes pra levarmos nas viagens.  

 3. Experiências Locais

Opte por consumir artesanato e cozinha locais, isso garante um melhor desenvolvimento do turismo regional e evita saturações que consumo de massa causa 

 4. Reduzir

Reduza a quantidade de lixo que produz. 

 5. Pesquisar

Procure conhecer o histórico de preservação do destino e dê preferência ao ecoturismo quando possível.

 6. Boicote

Boicote mesmo atrações que utilizam animais como fonte de algum trocado- fauna local não é e não deve ser vista como entretenimento ou objeto de foto.  Sua não escolha ajuda a mandar uma mensagem pra esse tipo de atividade econômica.  

Ponta da Piedade, Algarve

8 hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira

Sobrevivi uma semana com essa mochilinha. Parte dos itens levei pendurada por fora e nos bolsos

7. Consumo desenfreado

Tem 3 motivos estruturais pelos quais o consumo em excesso não condiz nem um pouco com a vida de uma mochileira:

1. O meio ambiente:

Comprar só por ter, exagerar sem precisar, isso acaba saindo caro pro meio ambiente. Enquanto pensarmos em ter mais em um menor espaço de tempo, vamos também procurar compensar através do preço e da qualidade. 

Vai por mim, produtos sem qualidade não são à prova de mochilões, eles nos deixam na mão e impactam e muito no nosso meio ambiente. É melhor apostar em roupas ou objetos de marcas responsáveis e materiais duráveis. Seu corpo, consciência, a natureza, e até seu feed do insta agradecem.

Ps. Na maioria dos casos, nem é preciso repaginar o guarda-roupa com peças caras e de marca. A quantidade de roupas que eu já tinha era mais que suficiente para não ter que comprar por um bom tempo, e ainda sobrava!

2. Bagagem:

Em se tratando de mochilão, a mobilidade tem de ser priorizada. Pode me chamar de ansiosa, mas eu normalmente penso no figurino inteiro pra cada dia da viagem, assim eu garanto que só vou levar as peças que realmente vou precisar. Neste caso, quanto menos opções por escolher, melhor.

3. Economizar dinheiro:

Se você gasta com coisas supérfluas, pode estar perdendo uma oportunidade de usar esse dinheiro pra uma experiência que compensaria mais. Fiz um post que explica direitinho esse ciclo de balancear os gastos para conseguir viajar. 

8. Apego

 

O último dos hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira. Quando eu comecei a planejar minhas viagens, eu contava com a presença de alguém pra me acompanhar, mas eu fui bolando o plano tão animada e do meu próprio jeito, que quando vi, já tinha feito milhares de planos na minha cabeça e não queria ter que esperar alguém se preparar e concordar com tudo pra me acompanhar. Viajar sozinha aconteceu sem querer pra mim. 

Logo eu vi que não só eu era capaz de me defender sozinha, vide item 1 do artigo, como eu  também era uma ótima companhia pra mim mesma. Eu seguia meu ritmo, me respeitava, e usava do silêncio pra dar a chance de ouvir a mim mesma. 

Não deixe de fazer uma viagem por falta de companhia. Muitas vezes ir com alguém que você não desgruda pode até trazer tensão à relação.

Mais uma vez pra fixar mesmo: 

Não deixe de fazer uma viagem por falta de companhia. Seja você sua melhor companhia. 

Hábitos que não combinam com uma mochileira

Cidade velha de Valletta, em Malta. 2019

No começo não foi fácil nem intuitivo. Mochilar sozinha me proporcionou as melhores sensações que já pude ter, e para continuar o fazendo, fez sentido abrir mão de alguns hábitos que não condiziam com este estilo de vida então decidi os abandonar para ser uma mochileira. Quais destes hábitos que você deve abandonar para ser uma mochileira mais te chamaram atenção? 

 

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